terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

PESSOA COMUM

Um grupo de nossa Associação resolveu mostrar um pouco como uma cidade no interior paulista recebe os deficientes físicos.
Galera operante logo cedo elegeu como ponto de partida a Estação Rodoviária de Agudos, digamos que em cidades pequenas, seja o ponto central do transporte público! Mas sabedores que não encontrariam poucas dificuldades, foi feito um convite a Rede Globo, através de sua afiliada TV Tem para que estivesse junto. O convite foi aceito e, por volta das 8hs da manhã todos estavam lá!
Aguardamos um pouco, enquanto víamos as barreiras impostas, após algumas idas e vindas de ônibus tentamos conversar com um motorista para saber qual o horário do ônibus com adaptação, para nossa “surpresa” diria que mais surpresa para a equipe de reportagem, a informação foi que não havia nenhum veículo com adaptação circulando, já que o único encontra-se em uma suposta oficina mecânica para reparos a mais de uma semana.
Foi daí o ponto de partida que o repórter esperava para dar início a matéria.
Fomos então a busca do tal ônibus, encontramos estacionado na rua, debaixo de árvores, próximo a algo que nos remete a uma oficina mecânica...
Falamos com um senhor que aceitou abrir o ônibus, retratamos a dificuldade de acesso pela “adaptação universal”, mostramos como o cadeirante é transportado, sem nenhuma segurança, a equipe da TV, fez as imagens e perguntas que julgavam necessárias e partiram para tentar ter explicações do prefeito. Interessantemente o prefeito atendeu a equipe de reportagem, lógico que longe da prefeitura!
Como retrata o vídeo ele fala que disponibilizou um micro-ônibus adaptado, que até mesmo os motoristas desconhecem a circulação dele, nós também ainda não cruzamos com ele pelas ruas, mas isso é outra história, o post aqui é mais para tentar esclarecer uma frase apenas, diria mais, uma expressão apenas dita pelo nosso ilustre senhor Prefeito “pessoa comum”, é isso mesmo no final de sua fala o chefe do executivo fala “pra que o cadeirante possa chegar nos mesmos lugares que uma pessoa comum também pode” deixando a boa gramática de lado, outra coisa me chamou a atenção, e atenção de muitos outros que assistiram a matéria quando fora ao ar, “pessoa comum”, ou seja, o cadeirante, muletante, protetizado, seja lá qual for a limitação do cidadão, nosso poder público não o enxerga como cidadão comum, ele é INCOMUM, mesmo estando todos nós em um país onde a carta magna  quando trata Dos Princípios Fundamentais, em seu  Art 1º, inc II e III, que são cidadania e, a dignidade da pessoa humana; no Art 3º, inc I e IV, construir uma sociedade livre, justa e solidária, promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de descriminação. Dos Direitos e Garantias Fundamentais, em seu art 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantido-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País  a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade à segurança  e à propriedade, nos termos seguintes: inc I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição; inc III – ninguém será submetido a tortura nem tratamento desumano ou degradante; inc XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens.
As vezes pode parecer um pouco chato ficar aqui falando sobre elementos Constitucionais, Leis e Ordenamentos Jurídicos, mas quando buscamos equiparação de direitos, igualdade, acessibilidade não podemos nos furtar de analisar as Leis que regem nosso país.
Quando o Estado não permite que o cidadão tenha acesso ao transporte público:
1.    Será que sua cidadania está prejudicada?
2.    Será que sua dignidade não é abalada?
3.    Será que essa sociedade passa a não ser livre?
4.    Será que isso é uma sociedade justa e solidária?
5.    Será que há promoção do bem de todos?
6.    Será que todos continuam iguais?
7.    Será que a liberdade é respeitada, existe?
8.    Será que o deficiente físico é igual?
9.    Será que há segurança?
10.  Será que há tratamento humano para todos?
Ou fechamos os olhos para o tratamento desumano, degradante que o cidadão é submetido, ainda mais quando o Chefe do Executivo fala “pra que o cadeirante possa chegar nos mesmos lugares que uma pessoa comum também pode”, ele afirma que o cadeirante não é uma pessoa comum. O que será pra ele um cadeirante? 


Pedro Monteiro
Voluntário AMADA

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